“Bugonia” frita a mente e escancara o negacionismo moderno

Yorgos Lanthimos transforma paranoia coletiva e dilemas éticos em uma experiência visual hipnótica
Emma Stone, a protagonista careca de "Bugonia", encarna a vulnerabilidade radical em meio ao caos conspiratório – um visual que frita a mente tanto quanto o roteiro de Lanthimos. Crédito: Universal Pictures/Divulgação

Aproveitei as férias para colocar em dia os últimos lançamentos, mas confesso: poucos filmes fritaram tanto a minha mente quanto “Bugonia”, novo trabalho de Yorgos Lanthimos. Saí da sessão com uma sensação incômoda e, ao mesmo tempo, fascinado. O diretor grego, que já havia chacoalhado o público com “O Lagosta”, “O Sacrifício do Cervo Sagrado” e “Pobres Criaturas”, volta a mergulhar em um território que ele domina como poucos: o da alegoria cruel sobre o nosso tempo. A pauta? Negacionismo Moderno.

“Bugonia” é, antes de tudo, um filme sobre a forma como escolhemos acreditar nas coisas. É impossível assistir sem pensar no negacionismo que tem marcado nossos últimos anos, da ciência ao meio ambiente. A trama usa uma situação extrema para questionar o quanto estamos dispostos a distorcer a realidade para que ela caiba nas nossas narrativas favoritas, sejam elas conspiratórias ou oficialmente chanceladas por sistemas de poder.

Enquanto eu assistia, a cabeça rodava com algumas perguntas inevitáveis: até que ponto o filme está do lado dos “rebeldes” que não confiam em nada, e até que ponto ele está criticando esses mesmos personagens? A história atira contra o negacionismo, mas também não poupa o cinismo institucional, a lógica fria dos sistemas de saúde e o descaso escancarado com o meio ambiente. Ninguém sai limpo. Nem o “sistema”, nem quem se coloca como salvador do mundo.


Crítica de Bugonia: o estilo Lanthimos entre humor, violência e desconforto

Lanthimos constrói essa crítica com o humor estranho de sempre, doses de violência seca e um clima constante de desconforto. Rimos, mas travados. E é justamente aí que o filme ganha força: não entrega respostas fáceis, não oferece um lado “correto” para você abraçar. Obriga o espectador a se perguntar em que ponto, na vida real, também prefere acreditar em versões convenientes da realidade.

Sem entrar em spoilers, “Bugonia” é um dos grandes filmes desta temporada, daqueles que rendem conversa longa depois da sessão. Visualmente marcante, politicamente provocador e narrativamente ousado, bugonia já chega com cara de forte candidato nas conversas de premiação. Pode anotar: “Bugonia” é destaque do ano e tem tudo para aparecer com força na corrida pelo Oscar.

Assista o trailer:

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